segunda-feira, 14 de novembro de 2011

O mundo na mochila

Dos anos hippies muito se fala.A história contemporânea ainda não avaliou aquelas radicalidades que tentaram mudar o planeta,as pessoas e a vida .Ficaram nas décadas de 1960 e de 1970 as últimas utopias coletivas da humanidade?Quais influencias restam da geração de paz e amor ? O sonho acabou? Podemos até descobrir respostas para questões assim.Ou não.Melhor esquecer buscas metódicas e celebrar as ideias ,as criações e os absurdos de uma época "louca total e completamente louca ".Hoje por exemplo ,seria impensável que um casal famoso ficasse uma semana deitado na cana,nu e cercado por fotógrafos,em protesto contra uma guerra (a do vietnã).Em 1968,John Lennon e Yoko Ono fizeram isso o chamado bed-in.Havia revolta política na cultura hippie.Vamos recuar até lá como se fosse um tempo presente de volta ao futuro.Lá ,onde os jovens adotam rompimentos poéticos e demonstrações púplicas de contrariedades.Lá ,onde é importante rejeitar valores quadrados do jogo adulto e capitalista.A senha :permanecer forever young.Quem envelhece são os caretas ,os vendidos ao sistema.O mundo na mochila .Abrir a porta ,sair sem destino ,deixar a imaginação ou o acaso cuidarem do trajeto.A garota Patti Smith e o garoto Robert Mapplethorpe se encontram numa noite fria em Nova York .Ela 20 .Ele 19.Estão na rua,descabelados ,cheios de anéis ,com fome e dispostos a mudar o mundo.Eles haviam visto um musico estranho (Jimmi Hendrix)jogar álcool na guitarra,tocar fogo e quebra-lá na frente de milhares de pessoas extasiadas.Perderam amigos no vietnã ,uma guerra distante e estúpidas .Patti e Robert celebram o underground ,o anti -cultural ,o lírico acrílico .Olha aquela nuvem ,que viagem .Do outro lado do Atlântico ,milhares de cabeludos nos parques de londres .Lagartos ao sol.Em São Francisco ,grupos com túnicas indianas pelas ruas entoam cânticos para Krishna .As esferas mentais permitem conexões entre Katmandu,Piccadilly Circus ,a graminha verde do Central Park e os coqueirais da Bahia .Gente em contínuo movimento .Pés na areia ,sinetes nos tornozelos ,dedos pedindo carona nas estradas .Passar sem deixar marcas ,sair sem bater a porta .Apoixonar - se sempre .Demonstrar amor de modo intenso .Gostar de várias pessoas ao mesmo tempo .Papos de anjos.Beijos ,línguas coladas.Descer por todas as ruas e tomar aquele velho navio.A solidão dos rochedos ,o contemplativo .Irmão sol ,Irmã Lua .Isolar - se ,soltar -se ,desapergar -se .Enviar postais de vez em quando. Encontrar a turma que sempre desejou ,naquela comunidade rural no meio do nada ,no meio da Dakota do Sul ou no sertão de Jequié .Viver cinco meses sem roupa ,plantando e colhendo alimento.Meditar .Ler poemas ,discutir o exílio de Rimbaud.No minuto seguinte ,vestir a calça boca-de-sino de veludo molhado .Tomar banho de cachoeira,fabricar incenso ou preparar arroz integral .Num belo dia ,a vontade de partir pra outa .Zarpar.Pular fora .Enquanto corria a barca .Rajadas de metralhadora.Na cidade,a barra pode pesar e a atitude hippie se transmuda em ação política ,armas ,sequestros e livros revolucionários .Fazer cinema :basta uma câmera na mão e muitas idéias na cabeça .Acreditar que a Era de Aquário traz energias tranformadoras .Da fumaça ,a nova raça.Guerrilheiras -manequins :tamanco holândes ,camiseta com batik de Bali ,colares do Afeganistão ,khol indiano nos cílios ,cheiro de patchuli .Deixa a luz do sol entrar .Acreditar em levitação .Levitar.Pirar.Abilolar.Visões psicodélicas ,op art.Ler cartas de tarô e depois dormir numa boa naquele banco do jardim .O submarino é amarelo?O trêm é azul?Os gurus falam por acenos .A cantora,a todo vapor.Dos hippies ,muito se fala .Ninguém jamais imaginará um mundo tão integrado ,visionário ,amoroso e produtivo.Não.O sonho era esse: mirar impossibilidades .Viver como crianças cuidadas pela natureza.Crianças que não queriam cortar o cabelo nem abrir conta em banco .Seres que queriam amor ,países sem fronteiras e ocultos ao misterioso .Pessoas que expandiam consiência .Aceita um chá?O universo hippie nos remete ao mundo de Alice ,a menina maluquinha de Lewis Carroll.Tudo poderia acontecer e tudo seria aceito ,pois a vida real não fazia mesmo sentido.Verdes vales do fim do mundo .O poder da flor que movia montanhas.